quinta-feira, 25 de março de 2010

CASO ISABELLA NARDONI





Os jornais de ontem (24/3) procuram reproduzir o que foi o primeiro dia do julgamento do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Trotta Jatobá. Eles são personagens centrais no caso do assassinato da menina Isabella Nardoni, que foi atirada do sexto andar de um edifício em São Paulo, no dia 29 de março de 2008.
A imprensa escrita não tem como competir em emoções com o rádio e a televisão. Também tem menos recursos para reproduzir o escândalo, o mau gosto e a exploração do emocionalismo que marcaram praticamente todo o dia em que se instalou o júri no Fórum de Santana, zona norte da capital paulista.
Na falta de informação de verdade, âncoras, apresentadores e repórteres de rádio e televisão disputaram até vendedor de amendoim. Palpiteiros de todo tipo pontificaram no noticiário em busca do seu quinhão de celebridade.



OS RÉUS - Segundo a acusação, Isabella foi morta pela madrasta e pelo pai. Ela a asfixiou e ele a atirou pela janela.
O noticiário é homogeneamente dramático e, nos jornais, a tentativa de dar alguma objetividade à cobertura resvala a todo momento para o contexto inevitável: uma criança é assassinada e seu pai é um dos principais suspeitos. No mais, as opiniões de juristas sobre a validade ou não dos tribunais de júri abrem a possibilidade de algum debate mais proveitoso sobre a aplicação da Justiça no Brasil.
Emoções inevitáveis - Os especialistas contrários ao instituto do júri argumentam que o cidadão comum é muito mais influenciável pela repercussão social de um evento a ser julgado do que os juízes togados, e que os júris podem ser manipulados antes de entrarem em confinamento para suas deliberações, sendo induzidos a prejulgamento pelo barulho feito pela imprensa.
Os especialistas favoráveis ao tribunal do júri observam que essa instituição ajuda a sociedade a entender a necessidade de justiça e de comunicar os valores da ordem jurídica aos cidadãos comuns.
Se depender dos programas populares da televisão, difícil concordar. Se for levado em conta o esforço dos jornais, sim, alguma coisa se pode aprender da transformação do julgamento em espetáculo público.
De qualquer maneira, seja qual for o veredicto, não haverá como assegurar que a Justiça terá sido feita. A invasão do local do acontecimento por policiais sem nenhuma coordenação, a demora na lacração do apartamento, a ação indiscriminada de repórteres e populares nas redondezas podem ter prejudicado as provas periciais.
E no meio das emoções inevitáveis provocadas pelo assassinato de uma criança, a Justiça dependerá principalmente dessas evidências.

(*) Jornalista, no portal Observatório da Imprensa

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